segunda-feira, 1 de agosto de 2016

ARGONAUTA: O Começo de tudo! Por Guilma Vidal Viruez



          A Data Coop completa, em 25 de setembro, vinte anos de atividade, feito memorável em um país onde a mortalidade das empresas é de dois anos.
       O software Biblioteca Argonauta®, família de softwares da Cooperativa, está perto de atingir o mesmo marco. Ótima ocasião para lembrar o histórico do Argonauta e principais funcionalidades do mesmo.
          Para começar, nada melhor do que o começo. O Argonauta nasceu do meu sonho, como bibliotecária, de ter um software que atendesse às necessidades da Biblioteconomia e Documentação, portanto, a história do Argo (como eu o chamo na intimidade), se confunde com a minha própria história profissional.
        Tornei-me bibliotecária por vocação, observando o trabalho de minha mãe, como um verdadeiro camundonguinho de biblioteca. Mas também escolhi racionalmente. Observava profissionais atuando e me imaginava no lugar deles. A independência dos bibliotecários me fascinava. Não via ninguém mandando neles, só pedindo. E os bibliotecários, embora atenciosos, impunham sempre seu ritmo de trabalho e negociavam a entrega. E quando entregavam o produto, sempre o cliente ficava com jeito de grato. O trabalho das equipes da biblioteca também me parecia muito colaborativo.
          Decidi logo fazer Biblioteconomia e Documentação e desde cedo meus interesses foram voltados para melhoria nos serviços, otimização de tempo, formas de acesso ao acervo, cuidados na preservação e principalmente com a informatização dos processos na Biblioteconomia.
      Passei a ser funcionária da Fundação Nacional de Arte na primeira década de sua fundação, período de distensão política, início do final da Ditadura. A Funarte congregava uma equipe fantástica de pensadores e pesquisadores, sob uma inteligente administração cultural, que lhes oferecia total liberdade de criação e experimentação. A Fundação era o Ministério da Cultura, dentro do MEC. Eu passei a coordenar o Cedoc, que reunia documentação especial, como figurinos, cenários, maquetes, selos, fotolitos, cartazes, programas de peças, textos de peças teatrais, partituras manuscritas e impressas, negativos de vidro, fitas rolo, além dos usuais livros, periódicos e artigos e recortes.
      A Funarte tinha como característica o trabalho integrado de todos os setores e a preocupação com a preservação da memória institucional. Assim, todos os projetos, pesquisas, estudos, passavam, em diversas etapas, pelo Cedoc, que era destinatário da documentação final, como fotos, filmes, vídeo gravações, registros sonoros, textos, monografias, edições. Significava que a catalogação de cada peça levava à pesquisa de seu histórico e fazia referência cruzada a todos os documentos relacionados. Maior integração, impossível.
            Na época era usual as instituições começaram a informatizar a Área Meio, uma vez que seus dados eram comportados. A Funarte já tinha informatizado o RH, Patrimônio, Financeiro, quando voltou os olhos para a Área Fim. Foi quando fui convidada a integrar a equipe do Setor de Informática, composta pelo analista de sistemas Francisco Wilson Ribeiro Peres e pelo programador Gian. Juntos, analisamos as necessidades de informação das Áreas Fim da Funarte. O trabalho rendeu muitos frutos, como diversos inventários e cadastros de manifestações culturais, espaços culturais, profissionais ligados à Arte e Cultura, nas Áreas de Música, Artes Plásticas, Dança, Folclore. No plano pessoal, familiarizou-me com os processos de modelagem de dados.
        No que se referia ao Cedoc, entretanto, logo constatou-se que seria o sistema mais complexo a ser desenvolvido. A opção foi pesquisar softwares comerciais existentes no mercado. Testamos vários, sem que nenhum satisfizesse nossas necessidades. Eram em sua maioria estrangeiros, caros, pouco flexíveis, obrigavam o usuário a fazer planilhas, a conhecer o padrão Marc 21, não possuíam campos variáveis, não permitiam criação de nenhum campo, não faziam integração de bases de dados, exigiam a compra ou desenvolvimento de vários Módulos para dar conta do acervo da Funarte e ainda assim não atendiam a nossas necessidades. Apenas um me agradou, o Micro Isis, por sua capacidade de permitir ao usuário construir suas próprias bases de dados. Logo fiz o curso e passe a usar a ferramenta como teste para os softwares que queria que meus colegas desenvolvessem. Mas ainda assim não nos atendia, uma vez que era portado para microcomputadores, que na época não comportavam grande volume de dados.
       Era época do grande e médio portes, anteriores à explosão da microinformática. A Funarte utilizava uma linguagem de programação largamente empregada na Área da Saúde, o MUMPS (Massachusetts General Hospital Utility Multi-Programming System). A mesma fora projetada para construir aplicações de Banco de dados, a baixo custo. Era extremamente flexível na construção de sistemas de informação, utilizando recursos de computação mínimos e permitindo multiprocessamento (não havia, à época, a possibilidade de uma única estação de trabalho suportar múltiplos usuários). Era também época de reserva de mercado de Informática, o que deu oportunidade às empresas brasileiras, como a Cobra, de efetuar implementações na linguagem MUMPS no Brasil.
            Durante o desenvolvimento dos sistemas das Áreas Fim, detectamos a possibilidade de criar, em MUMPS, programas que criassem programas, em especial para tarefas repetitivas, como formação de cadastros e tabelas. Foi quando Francisco e Gian criaram o gerenciador de banco de dados Zen, que passou a ser adotado em todos os desenvolvimentos. Foi quando deixei de fazer protótipos com o Micro Isis e passei a utilizar o Zen.
       Foi quando surgiu o Sistema Zen - Sisdoc para Gerenciar o Acervo do Centro de Documentação, e logo depois o Sismu, para o acervo do Museu. Todos os sistemas desenvolvidos no Zen foram analisados pelo analista Francisco Wilson Ribeiro Peres e programado pelo programador Gian..
       Francisco merece um capítulo à parte. Destacava-se dos demais analistas da época, verdadeiros geninhos do zero e um, formados na escola dos Anos Sessenta, Setenta. Ele tinha outro perfil. Viera de baixo, subiu na vida no Rio de Janeiro, vindo de Ipu por seus próprios méritos e garra. Aprendeu a programar com o melhor analista do IBGE, a partir de uma aposta, se era capaz de fazer sozinho um programa, que vencera. Inteligente, curioso e trabalhólatra, sempre foi a alma do Argonauta, a quem se referia como um filho. Formou-se em Estatística e fez vários cursos de Informática, sendo depois transferido para a Funarte.
         Formávamos um time e tanto. Muita briga, é verdade. “Você é arrogante”, “Você é chata”, era o que mais se ouvia. Mas sempre chegávamos a um denominador comum. Não havia dificuldade que eu colocasse que ele não se sentisse desafiado a contornar.
      E o Zen funcionou na Funarte, sempre recebendo implementações, a partir das necessidades dos usuários dos diversos setores.
         Até que chegou a tragédia Collor. Fui colocada em disponibilidade e, para encurtar conversa, passei a ser consultora em Biblioteconomia. Foi quando surgiu a outra personagem na história do Argonauta, a bibliotecária Iracema Rodrigues de Moraes.
           Nós militávamos no Sindicato dos Bibliotecários, ela era Vice-Presidente da gestão Ivana Mendes Campos. Mesmo tendo imunidade, foi demitida do emprego num setor público. Passou a prestar serviços por intermédio de uma Cooperativa que chamávamos de eteceteras (diversas profissões). Teve então a ideia de fundar uma cooperativa de bibliotecários, que veio a ser Data Coop, primeira cooperativa de profissionais da informação. Começamos nas dependências do Sindicato, passamos para um escritório virtual, até que sentimos a necessidade de ter um espaço nosso, que é o que ocupamos até hoje.
          Nessa época eu trouxe para Iracema a proposta de desenvolver um software bibliográfico comercial, a partir da minha experiência e do Chico no desenvolvimento do Zen, da Funarte. Ela, sempre ousada, topou na hora. Coincidiu que o Ministério Público nos contratou para organizar a Biblioteca e se interessou pelo nosso software, optando, porém, por desenvolver em Power Builder, a partir da inteligência que passássemos. Foi um excelente teste. Daí foi só partir para desenvolver a versão comercial diretamente, utilizando Delphi 3.
          Nosso protótipo já tinha nome: Argonauta. Sugestão de minha amiga de infância, Angela Seixas. Éramos, as duas fissuradas em Mitologia Grega e o nome surgiu naturalmente. Argonautas eram os 50 heróis tripulantes da nau Argo, feita com a ajuda da deusa da sabedoria, Atena que os conduzia a inúmeras expedições, batalhas e descobertas de mares e continentes distantes. Corajosos e intrépidos, os Argonautas arriscavam-se para conquistar o “tosão de ouro”, que simbolizava a sabedoria e traria a prosperidade para o povo que o possuísse e deve-se a um deles, Tífis, a audácia do desdobramento das primeiras velas sobre a imensidão dos mares, ditando novas leis aos ventos. Entre os Argonautas famosos encontram-se Hércules, Ulisses, Teseu, Castor, Pólux, Orfeu. Eu queria homenagear os bibliotecários, nós éramos o Google da época e sempre fôramos os pioneiros na navegação na infovia.
          As duas logomarcas foram idealizadas pela designer Fernanda Lemos. A da Data Coop representa a integração dos diferentes suportes, a variedade de dados, contidos nos quadrados e letras que simbolizam dados, documentos, antenas (a ponta do d), claquetes (a perna do p). A cor escolhida foi o azul, representando tanto a cor do oceano profundo quando o céu sem estrelas. A logo do Argonauta representa a nau Argo, a cor é verde Light, é composta das letras B e A estilizadas em forma de vela. O primeiro ícone do software, na versão cliente/servidor, reproduzia, de maneira estilizada, o cefalópode Argonauta (Argonauta Argo), assim denominado por alusão aos Argonautas. O molusco, em época de calmaria, navega na superfície do mar utilizando-se dos tentáculos como remos e vela. Em caso de perigo, recolhe-os e mergulha.
       No momento que apresentávamos o Argonauta, a situação da informática mudara completamente. A microinformática chegou de supetão, subvertendo tudo. Já havia capacidade para processar grandes dados, o multiprocessamento era absolutamente viável. E principalmente, aquele hardware era o que a Informática necessitava para transformar em realidade os grandes estudos dos Anos Sessenta (robótica, tratamento de som e imagem). Possibilitaram, portanto, a criação das bibliotecas digitais com as quais eu tanto sonhava e só pareciam possíveis nos documentos que buscávamos nos países da cortina de ferro e mandávamos traduzir. Beleza.
         Assim, em 1998 o Argonauta, incorporando todas as novidades possíveis, era implantado em seu primeiro cliente, a Fundação Educacional Souza Marques, em versão cliente/servidor, desenvolvido em Delphi 3.
Começamos a exibir o sistema em Congressos e atraímos a atenção dos profissionais e pelo mundo Acadêmico.
          No ano 2000 realizamos a primeira venda para o exterior, para o Ministério do Plano, de Luanda, Angola.
Em pouco tempo o Argonauta possuía tantos clientes quanto a sua concorrência, no mercado há muito mais tempo. E o motivo foi que apresentamos muitas novidades, à época. Com o tempo toda a concorrência passou a também incorporar as mesmas funcionalidades, o que foi muito bom para a área de Documentação. Nossa estratégia de venda, não cobrando por biblioteca e sim por licença, barateou o produto para os clientes, e foi rapidamente absorvida pelos demais fornecedores de software.
Dentre os problemas que eram encontrados e que foram solucionados com o desenvolvimento do Biblioteca Argonauta®, elencamos:

  • integração das bases de dados bibliográficas, documentais, audiovisuais, hemerotecas e bases de informações em um único software, desobrigando os usuários de adquirir diversos softwares para gerenciar seus acervos;
  • entrada de dados, que antes obrigava os usuários a terem conhecimentos dos parágrafos Marc21, passou a ser realizada interativa e amigável, tornando possível a catalogação on line, sem necessidade de planilha, o Argonauta se encarregava de transformar a entrada de dados nos parágrafos Marc21, no que chamamos de Marc 21 sem dor;
  • a catalogação passou a ser mais flexível, o usuário podia optar por entrar dados em qualquer nível do AACR2 ou utilizar seus próprios padrões;
  • os relatórios passaram a seguir as normas ABNT para Documentação;
  • os controles da linguagem documentária, como o Controle de Autoridades, o Controle Vocabular e o Tesauro, passaram a ser integrados ao software de Gestão da Documentação, possibilitando a alteração em cascata de todos os dados, a partir de uma única alteração na tabela;
  • os campos passaram a ser tabelados, reduzindo a incidência de erro na entrada de dados;
  • as customizações, desde que atendessem a todos os clientes, passaram a ser realizadas sem tanta burocracia e passaram a ser incorporadas à manutenção do software;
  • os licenciamentos passaram a ser realizadas por instituição e não mais por biblioteca atendida;
  • o Argonauta possibilitou a integração dos sistemas bibliográficos, arquivísticos e museográficos, com exportação no padrão Marc21.
          Esse foi o começo. Nas próximas postagens, vou falar um pouco mais de cada funcionalidade.

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