A Data Coop completa, em 25 de setembro, vinte anos de atividade,
feito memorável em um país onde a mortalidade das empresas é de dois anos.
O software Biblioteca Argonauta®, família de softwares da Cooperativa, está perto de atingir o mesmo marco. Ótima ocasião para lembrar o histórico do Argonauta e principais funcionalidades do mesmo.
Para começar, nada melhor do que o começo. O Argonauta nasceu do meu sonho, como bibliotecária, de ter um software que atendesse às necessidades da Biblioteconomia e Documentação, portanto, a história do Argo (como eu o chamo na intimidade), se confunde com a minha própria história profissional.
O software Biblioteca Argonauta®, família de softwares da Cooperativa, está perto de atingir o mesmo marco. Ótima ocasião para lembrar o histórico do Argonauta e principais funcionalidades do mesmo.
Para começar, nada melhor do que o começo. O Argonauta nasceu do meu sonho, como bibliotecária, de ter um software que atendesse às necessidades da Biblioteconomia e Documentação, portanto, a história do Argo (como eu o chamo na intimidade), se confunde com a minha própria história profissional.
Tornei-me bibliotecária por vocação, observando o trabalho de
minha mãe, como um verdadeiro camundonguinho de biblioteca. Mas também escolhi
racionalmente. Observava profissionais atuando e me imaginava no lugar deles. A
independência dos bibliotecários me fascinava. Não via ninguém mandando neles,
só pedindo. E os bibliotecários, embora atenciosos, impunham sempre seu ritmo
de trabalho e negociavam a entrega. E quando entregavam o produto, sempre o
cliente ficava com jeito de grato. O trabalho das equipes da biblioteca também me
parecia muito colaborativo.
Decidi logo fazer Biblioteconomia e Documentação e desde cedo meus
interesses foram voltados para melhoria nos serviços, otimização de tempo, formas
de acesso ao acervo, cuidados na preservação e principalmente com a informatização
dos processos na Biblioteconomia.
Passei a ser funcionária da Fundação Nacional de Arte na primeira
década de sua fundação, período de distensão política, início do final da
Ditadura. A Funarte congregava uma equipe fantástica de pensadores e
pesquisadores, sob uma inteligente administração cultural, que lhes oferecia total
liberdade de criação e experimentação. A Fundação era o Ministério da Cultura,
dentro do MEC. Eu passei a coordenar o Cedoc, que reunia documentação especial,
como figurinos, cenários, maquetes, selos, fotolitos, cartazes, programas de
peças, textos de peças teatrais, partituras manuscritas e impressas, negativos
de vidro, fitas rolo, além dos usuais livros, periódicos e artigos e recortes.
A Funarte tinha como característica o trabalho integrado de todos
os setores e a preocupação com a preservação da memória institucional. Assim,
todos os projetos, pesquisas, estudos, passavam, em diversas etapas, pelo Cedoc,
que era destinatário da documentação final, como fotos, filmes, vídeo gravações,
registros sonoros, textos, monografias, edições. Significava que a catalogação
de cada peça levava à pesquisa de seu histórico e fazia referência cruzada a
todos os documentos relacionados. Maior integração, impossível.
Na época era usual as instituições começaram a informatizar a Área
Meio, uma vez que seus dados eram comportados. A Funarte já tinha informatizado
o RH, Patrimônio, Financeiro, quando voltou os olhos para a Área Fim. Foi
quando fui convidada a integrar a equipe do Setor de Informática, composta pelo
analista de sistemas Francisco Wilson Ribeiro Peres e pelo programador Gian.
Juntos, analisamos as necessidades de informação das Áreas Fim da Funarte. O
trabalho rendeu muitos frutos, como diversos inventários e cadastros de manifestações
culturais, espaços culturais, profissionais ligados à Arte e Cultura, nas Áreas
de Música, Artes Plásticas, Dança, Folclore. No plano pessoal, familiarizou-me
com os processos de modelagem de dados.
No que se referia ao Cedoc, entretanto, logo constatou-se que
seria o sistema mais complexo a ser desenvolvido. A opção foi pesquisar
softwares comerciais existentes no mercado. Testamos vários, sem que nenhum
satisfizesse nossas necessidades. Eram em sua maioria estrangeiros, caros,
pouco flexíveis, obrigavam o usuário a fazer planilhas, a conhecer o padrão
Marc 21, não possuíam campos variáveis, não permitiam criação de nenhum campo,
não faziam integração de bases de dados, exigiam a compra ou desenvolvimento de
vários Módulos para dar conta do acervo da Funarte e ainda assim não atendiam a
nossas necessidades. Apenas um me agradou, o Micro Isis, por sua capacidade de
permitir ao usuário construir suas próprias bases de dados. Logo fiz o curso e
passe a usar a ferramenta como teste para os softwares que queria que meus
colegas desenvolvessem. Mas ainda assim não nos atendia, uma vez que era
portado para microcomputadores, que na época não comportavam grande volume de
dados.
Era época do grande e médio portes, anteriores à explosão da
microinformática. A Funarte utilizava uma linguagem de programação largamente
empregada na Área da Saúde, o MUMPS (Massachusetts
General Hospital Utility Multi-Programming System). A mesma fora projetada para construir
aplicações de Banco de dados, a baixo custo. Era extremamente flexível na
construção de sistemas de informação, utilizando recursos de computação mínimos
e permitindo multiprocessamento (não havia, à época, a possibilidade de uma
única estação de trabalho suportar múltiplos usuários). Era também época de
reserva de mercado de Informática, o que deu oportunidade às empresas
brasileiras, como a Cobra, de efetuar implementações na linguagem MUMPS no
Brasil.
Durante o desenvolvimento dos sistemas das Áreas Fim, detectamos a
possibilidade de criar, em MUMPS, programas que criassem programas, em especial
para tarefas repetitivas, como formação de cadastros e tabelas. Foi quando
Francisco e Gian criaram o gerenciador de banco de dados Zen, que passou a ser
adotado em todos os desenvolvimentos. Foi quando deixei de fazer protótipos com
o Micro Isis e passei a utilizar o Zen.
Foi quando surgiu o Sistema Zen - Sisdoc para Gerenciar o Acervo
do Centro de Documentação, e logo depois o Sismu, para o acervo do Museu. Todos
os sistemas desenvolvidos no Zen foram analisados pelo analista Francisco
Wilson Ribeiro Peres e programado pelo programador Gian..
Francisco merece um capítulo à parte. Destacava-se dos demais
analistas da época, verdadeiros geninhos do zero e um, formados na escola dos Anos
Sessenta, Setenta. Ele tinha outro perfil. Viera de baixo, subiu na vida no Rio
de Janeiro, vindo de Ipu por seus próprios méritos e garra. Aprendeu a
programar com o melhor analista do IBGE, a partir de uma aposta, se era capaz
de fazer sozinho um programa, que vencera. Inteligente, curioso e trabalhólatra,
sempre foi a alma do Argonauta, a quem se referia como um filho. Formou-se em Estatística
e fez vários cursos de Informática, sendo depois transferido para a Funarte.
Formávamos um time e tanto. Muita briga, é verdade. “Você é
arrogante”, “Você é chata”, era o que mais se ouvia. Mas sempre chegávamos a um
denominador comum. Não havia dificuldade que eu colocasse que ele não se
sentisse desafiado a contornar.
E o Zen funcionou na Funarte, sempre recebendo implementações, a
partir das necessidades dos usuários dos diversos setores.
Até que chegou a tragédia Collor. Fui colocada em disponibilidade
e, para encurtar conversa, passei a ser consultora em Biblioteconomia. Foi
quando surgiu a outra personagem na história do Argonauta, a bibliotecária
Iracema Rodrigues de Moraes.
Nós militávamos no Sindicato dos Bibliotecários, ela era
Vice-Presidente da gestão Ivana Mendes Campos. Mesmo tendo imunidade, foi
demitida do emprego num setor público. Passou a prestar serviços por intermédio
de uma Cooperativa que chamávamos de eteceteras (diversas profissões). Teve
então a ideia de fundar uma cooperativa de bibliotecários, que veio a ser Data
Coop, primeira cooperativa de profissionais da informação. Começamos nas
dependências do Sindicato, passamos para um escritório virtual, até que
sentimos a necessidade de ter um espaço nosso, que é o que ocupamos até hoje.
Nessa época eu trouxe para Iracema a proposta de desenvolver um
software bibliográfico comercial, a partir da minha experiência e do Chico no
desenvolvimento do Zen, da Funarte. Ela, sempre ousada, topou na hora. Coincidiu
que o Ministério Público nos contratou para organizar a Biblioteca e se
interessou pelo nosso software, optando, porém, por desenvolver em Power
Builder, a partir da inteligência que passássemos. Foi um excelente teste. Daí
foi só partir para desenvolver a versão comercial diretamente, utilizando
Delphi 3.
Nosso protótipo já tinha nome: Argonauta. Sugestão de minha amiga
de infância, Angela Seixas. Éramos, as duas fissuradas em Mitologia Grega e o
nome surgiu naturalmente. Argonautas eram os 50 heróis tripulantes da
nau Argo, feita com a ajuda da deusa da sabedoria, Atena que os conduzia a
inúmeras expedições, batalhas e descobertas de mares e continentes distantes.
Corajosos e intrépidos, os Argonautas arriscavam-se para conquistar o “tosão de
ouro”, que simbolizava a sabedoria e traria a prosperidade para o povo que o possuísse
e deve-se a um deles, Tífis, a audácia do desdobramento das primeiras velas
sobre a imensidão dos mares, ditando novas leis aos ventos. Entre os Argonautas
famosos encontram-se Hércules, Ulisses, Teseu, Castor, Pólux, Orfeu. Eu queria
homenagear os bibliotecários, nós éramos o Google da época e sempre fôramos os pioneiros
na navegação na infovia.
As duas logomarcas foram idealizadas pela designer Fernanda Lemos.
A da Data Coop representa a integração dos diferentes suportes, a variedade de
dados, contidos nos quadrados e letras que simbolizam dados, documentos,
antenas (a ponta do d), claquetes (a perna do p). A cor escolhida foi o azul,
representando tanto a cor do oceano profundo quando o céu sem estrelas. A logo
do Argonauta representa a nau Argo, a cor é verde Light, é composta das letras
B e A estilizadas em forma de vela. O primeiro ícone do software, na
versão cliente/servidor, reproduzia, de maneira estilizada, o cefalópode
Argonauta (Argonauta Argo), assim denominado por alusão aos Argonautas. O
molusco, em época de calmaria, navega na superfície do mar utilizando-se dos
tentáculos como remos e vela. Em caso de perigo, recolhe-os e mergulha.
No momento que apresentávamos o Argonauta, a situação da
informática mudara completamente. A microinformática chegou de supetão, subvertendo
tudo. Já havia capacidade para processar grandes dados, o multiprocessamento
era absolutamente viável. E principalmente, aquele hardware era o que a
Informática necessitava para transformar em realidade os grandes estudos dos
Anos Sessenta (robótica, tratamento de som e imagem). Possibilitaram, portanto,
a criação das bibliotecas digitais com as quais eu tanto sonhava e só pareciam
possíveis nos documentos que buscávamos nos países da cortina de ferro e
mandávamos traduzir. Beleza.
Assim, em 1998 o Argonauta, incorporando todas as novidades
possíveis, era implantado em seu primeiro cliente, a Fundação Educacional Souza
Marques, em versão cliente/servidor, desenvolvido em Delphi 3.
Começamos a exibir o sistema em Congressos e atraímos a atenção
dos profissionais e pelo mundo Acadêmico.
No ano 2000 realizamos a primeira venda para o exterior, para o
Ministério do Plano, de Luanda, Angola.
Em pouco tempo o Argonauta possuía tantos clientes quanto a sua concorrência,
no mercado há muito mais tempo. E o motivo foi que apresentamos muitas
novidades, à época. Com o tempo toda a concorrência passou a também incorporar
as mesmas funcionalidades, o que foi muito bom para a área de Documentação.
Nossa estratégia de venda, não cobrando por biblioteca e sim por licença,
barateou o produto para os clientes, e foi rapidamente absorvida pelos demais
fornecedores de software.
Dentre os
problemas que eram encontrados e que foram solucionados com o desenvolvimento
do Biblioteca Argonauta®, elencamos:
- integração das bases de dados bibliográficas, documentais, audiovisuais, hemerotecas e bases de informações em um único software, desobrigando os usuários de adquirir diversos softwares para gerenciar seus acervos;
- entrada de dados, que antes obrigava os usuários a terem conhecimentos dos parágrafos Marc21, passou a ser realizada interativa e amigável, tornando possível a catalogação on line, sem necessidade de planilha, o Argonauta se encarregava de transformar a entrada de dados nos parágrafos Marc21, no que chamamos de Marc 21 sem dor;
- a catalogação passou a ser mais flexível, o usuário podia optar por entrar dados em qualquer nível do AACR2 ou utilizar seus próprios padrões;
- os relatórios passaram a seguir as normas ABNT para Documentação;
- os controles da linguagem documentária, como o Controle de Autoridades, o Controle Vocabular e o Tesauro, passaram a ser integrados ao software de Gestão da Documentação, possibilitando a alteração em cascata de todos os dados, a partir de uma única alteração na tabela;
- os campos passaram a ser tabelados, reduzindo a incidência de erro na entrada de dados;
- as customizações, desde que atendessem a todos os clientes, passaram a ser realizadas sem tanta burocracia e passaram a ser incorporadas à manutenção do software;
- os licenciamentos passaram a ser realizadas por instituição e não mais por biblioteca atendida;
- o Argonauta possibilitou a integração dos sistemas bibliográficos, arquivísticos e museográficos, com exportação no padrão Marc21.
Esse foi o começo. Nas próximas postagens, vou
falar um pouco mais de cada funcionalidade.
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