terça-feira, 16 de agosto de 2016

sábado, 13 de agosto de 2016

Comemorando os 20 anos da Data Coop lançamos os marcadores de livros, singelas semi joias!


Em parceria com a Sarah Semi Joias lançamos os marcadores de livros, que também podem ser usados como clips para seus projetos, roteiros, trabalhos acadêmicos e é uma edição exlcusiva, limitada.

São semi joias, banhadas à ouro, prata e grafite. 

#datacoop20anos

Em breve, mais novidades! Em breve na Datacoop Boutique!




Dica do Final de Semana - Por Guilma Vidal Viruez

DICAS PROFISSIONAIS

Sou bibliotecária há muitos anos. Por esse motivo acumulei uma série de experiências que acho interessantes com partilhar com os colegas. Lanço aqui, despretensiosamente, na esperança que sejam úteis a alguém.
Aqui vão:

I. De Português

É fundamental não fazer feio ao escrever a língua pátria. Então vamos às dicas sobre as questões que me incomodam mais.

  1. A e Há

Muito fácil de guardar:
A= tempo a decorrer. “Daqui a duas horas estarei saindo”.
Há= tempo decorrido. “ dois mil anos te mandei meu grito”. “Agora pouco”

  1. Crase - que não foi feita para humilhar ninguém.

Detesto ver períodos de tempo com a preposição craseada, ou seja, “de 16 de abril à 05 de maio”. Ora, a crase nada mais é que a fusão do artigo definido feminino a com a preposição a.

A + A = À

Se dia é masculino, não existe artigo definido feminino a, logo, não há fusão. O correto é escrever “de 16 de abril a 05 de maio, ou, do dia 16 de abril ao dia 05 de maio. Simples.
Para não errar:

ü  Na dúvida, não craseiem, aliás, na dúvida, não acentuem. É sempre mais fácil convencer os outros que o teclado estava mal configurado do que explicar o motivo daquele acento fora de propósito.
ü  Se decidir usar a crase, não a utilize antes de palavra masculina, pelo motivo que já expliquei;
ü  Mesmo que a palavra seja feminina, se ela não pedir o artigo definido a ou a preposição a, não há sentido em usá-la. Na dúvida sobre se a palavra admite artigo, transforme a frase, por exemplo, se quer dizer “Dê esse livro a esta menina”, transforme a frase em “A esta menina é bonita”. Está está correto, claro que não, o certo é “Esta menina é bonita”. Então a frase não admite o artigo definido feminino. Faça o mesmo para a preposição, aquele truque de pegar o verbo (por exemplo o verbo dar) e perguntar: quem “dá”, “dá” alguma coisa a alguém, se não couber o a, esqueça a crase;
ü  Ah, mas tem exceções! Claro, que sim, e eles só confirmam a regra. Por exemplo, quando a palavra começa com a letra a, tem crase, porque houve a fusão da letra inicial com a preposição. E quando o a na verdade significa à moda de (sopa à Leão Veloso, ou seja, à moda de Leão Veloso).

Esses são os erros mais usuais. Mas lembre-se, na dúvida, esqueça os acentos.

II.  Catalogação

  1. Numeral em francês

Quando catalogamos obras do século XIX, a maioria editada na França, deparamo-nos com as edições indicadas por extenso em francês. Para muitos parece ser uma tarefa difícil, mas eu tenho um truque para facilitar:
  • Ninguém tem problema até o vinte (um, deux, trois, quatre, cinq, six, sept, huit, neuf, dix, onze, douze, treize, quatorze, quinze, seize, dix-sept, dix-huit, dix-neuf, vingt;
  • Também vai tudo bem até o sessenta, não? (10=dix, 20=vingt, 30=trinte, 40=quarente, 50=cinquenta, 60=soixante).
  • Aí chega o setenta e o povo pira. Mas o que vem a ser setenta? Simplesmente sessenta + dez. É assim que é dito em francês, soixante-dix. E daí é só começar a acrescentar um a dez, ou seja, –, soixante et onze, soixante-douze, soixante-treize, soixante-quatorze ...
  • E esbarramos no oitenta. Mas oitenta o que vem a ser? Simplesmente quatro vezes vinte. Em francês, quatre-vingts. E daí quatre-vingt-um, quatre-vingt-deux, quatre-vingt-trois.
  • Tudo bem, mas o noventa? São quatro vezes vinte + dez, ou seja, quatre-vingt-dix. E começa, quatre-vingt-onze, quatre-vingt-douze, quatre-vingt-treize

As edições vem indicadas com a terminação ème ao final do numeral em extenso.
Viram, fácil, sem stress.

  1. Análise para catalogação de material especial.

A maioria dos bibliotecários faz um bicho de sete cabeças de materiais especiais.
Sem motivo. Embora os diferentes suportes (vídeo VHS, fita cassete, CD-Rom, URL, documento digital, etc. possuam formatos e informações diferentes, a maneira de analisa-los é a mesma do livro.
Tenho um truque também para vocês, o bloco de informações.
Cada bloco dá conta de uma análise que se aplica a qualquer material, respeitando suas especificidades.

Quem – Quem é o responsável pelo conteúdo intelectual do material que estamos analisando. A resposta dá origem aos campos Autor, Colaborador, Entrada Secundária, Entidade.

O que – Como se chama o produto que estamos estudando? A resposta fornece o Tipo de Acervo e o Título.

Onde? Por Quem? Quando? – Em que local foi produzida, por quem, em que data? A resposta nos fornece a Imprenta.

Como? – De que maneira se apresenta a obra? Esse bloco possui três pequenos blocos, que nos dão conta da Descrição Física. O primeiro bloco indica a quantidade e tipo de acervo, o segundo das características próprias, como cor, ilustração, duração, sistema, matéria prima; e o último pequeno bloco da descrição física, dimensões, etc.

Informações Adicionais – Notas sobre o material.

Sobre Quem É? Do Que ou de Que Instituição Trata? A que Período ou Local se refere? Como foi o processo? Dão conta do assunto.

Portanto, para catalogar qualquer tipo de material ou qualquer informação, é preciso atentar para os blocos e buscar respostas no material que temos em mãos. Eu asseguro que o AACR2 e a norma ABNT de Documentação dão todo o apoio para executarmos nossas tarefas.



sexta-feira, 12 de agosto de 2016

DIY: Revisteiro para sua biblioteca em casa ou institucional

Olá Pessoal, agora toda sexta tem um tutorial ou dicas práticas envolvendo decoração de bibliotecas, escritórios, home offices e afins aqui no Blog da Datacoop.

Eu sou bibliotecária, formada pela UFF. Cursei Mestrado em Ciência da Informação, mas devido a uma loucura na vida profissional, não qualifiquei e não defendi a minha dissertação. Perdi o prazo. Mas, fiz tudo que deveria ter sido feito. Estudei Marketing Digital na Cândido, pós graduação e estou â frente da Biblio Ideias, agência de orientação para negócios e marketing digital e também estudei decoração, pela Criart. Por isso, vou revezar com minha parceira Criativa na Biblio Ideias, a Flavia Rebello essa coluna aqui de DIY (Do it yourself ou Faça você mesmo) e decoração.

Quando estudei Biblioteconomia da UFF, eu me encantei com as aulas de Administração de Bibliotecas e coprei os livros da Professora Alba Maciel, sobre como pensar o layout da sua biblioteca.

Parece algo simples, ter estantes, livros, área de consulta, mas na prática, hoje as bibliotecas abusam da identidade visual e são espaços de socialização, transferência de conhecimento e de geração de conhecimento por membros da comunidade que a frequenta.

Então, além da ergonomia, quantidade de cadeiras e mesas, há que se pensar em outras possibilidades para encantar e fidelizar o leitor.

É um assunto que amo e vou trazer algumas questões aqui na coluna, como estilo, tipo de público, áreas de convívio, áreas de estudo individual, etc.

Confesso que vi uma grande transformação na Biblioteca Pública de Niterói, quando passou a fazer parte do que é conhecido como Bibliotecas Parque. Eu já era apaixonada pelo prédio e pelo acervo na minha adolescência. Eu estudei Biblioteconomia muito por conta da minha relação com essa biblioteca.

E ao voltar lá há alguns anos, já com meu filho e uma ludoteca...uma área para ler jornais, ver filmes...eu realmente me encantei toda. Fui conhecer a Biblioteca Parque da Presidente Vargas, que a Datacoop colaborou na organização do acervo para sua inauguração e babei...é ousada e contemporânea, ainda que em um prédio antigo. Amo ir lá também e a parte infantil é das minhas favoritas, além do convite ao Ócio e contemplação.

Bem, as bibliotecas tem adotado uma decoração mais aconchegante e convidativa e pensando nisso, o tutorial de hoje é para pensar em sustentabilidade. Seja na sua biblioteca ou na sua biblioteca em casa, reaproveitar e dar uma segunda chance ao que seria jogado no lixo é uma atitude sustentável e que vai tirar sua biblioteca do lugar comum, pode acreditar!

Aqui em casa quando Miguel deixou o berço, eu não tive para quem doar e não gosto de vender minhas coisas afetivas...então transformei o berço dele em revisteiros...usando estrado, laterais e todo mundo elogia quando vem aqui em casa. Eu preciso de uma casa biblioteca, com muita informação disponível em todo lugar onde eu esteja.

Veja as fotos:


Essa lateral do berço do Miguel deixa minhas revistas com receitas sempre à mão na minha cozinha, próximo à bancada que usamos para tomar café ou fazer refeições rápidas (reaproveitamos as portas de um armário para fazer a bancada).


A outra lateral do berço, ficou nessa parede azul, atrás da porta do quarto do Miguel e toda noite escolhemos um livro para ler. Como ele está lendo livros mais grossos e não ficam bem dispostos ali, acho que vamos doar alguns e passar a colocar os gibis e as Revistas Recreio, que ele assina. Você vê também a decoração afetiva e bem baratinha...com mãos de amigos e priminhos do Miguel. Cada vez que vinham visitar, deixavam sua marca.

A cabeceira e a parte inferior do berço ganharam esses destinos:

Porta revista no lavabo (sempre encanta quem visita nossa casa ou home office) e no ateliê, deu organização aos tecidos.



Então, o tutorial de hoje é bem simples.

Transforme um berço ou estrutura ripada em revisteiro.

Você pode pintar ou deixar na cor natural, 

Fixar na parede como fizemos na cozinha, ateliê, quarto do Miguel, lavabo.

Ou...deixar solto, como fiz com o estrado aqui no home office da Biblio Ideias onde deixo as revistas que assinamos para referências para escrevermos assuntos diversos sempre à mão. 

O que achou da ideia sustentável para uma decoração criativa com revistas e livros?












quinta-feira, 11 de agosto de 2016

Cheia de Assunto - Por Guilma Vidal Viruez


Dado, Informação, Conhecimento e Sabedoria

          Você andando na rua, sente um pingo de água na cabeça. Pensa que é pingo de ar condicionado. Olha para o céu, vê nuvens pretas, ouve um trovão. Percebe que é chuva. Apressa o passo e decide o que fazer, abrigar-se numa marquise, chegar ao Metrô, tomar chuva.
          Nessa historinha, o pingo d´água é o dado. A percepção da chuva é a informação. O medo de se molhar e pegar gripe é o conhecimento. A decisão de como se abrigar é a sabedoria.
          Um exemplo, no reino animal, o relacionamento cangambá e urso.
          O cangambá é parente muito próximo do zorrilho (RS) e da jaguaritaca (MG). Possui no corpo uma reserva de um líquido catinguento, tão forte que é usado como fixador de perfume e que pode ser lançado no oponente, num alcance de até 3 metros. Se acerta, o inimigo sempre desiste da luta.
          Mas o cangambá só usa esse recurso quando falham todos os avisos que dá, como escavar o chão, dar pulinhos e cambalhotas e principalmente exibir as listras brancas na cabeça, dorso e rabo, que avisam que possui o tal líquido. Tudo para que o predador desista. Isso porque o cangambá só pode usar o líquido três vezes seguidas. Depois disso, são necessárias dez horas para recompor o estoque do produto, tempo em que fica muito vulnerável.
          Já o urso tem um dos melhores sensos de olfato no reino animal. Fareja longe o odor das frutas das quais se alimenta. Se encontra qualquer animal no caminho de seu petisco, ele o elimina imediatamente. Entretanto, sempre que avista as listas brancas do cangambá, ele evita o animal, aparentemente lembrando-se do odor que uma vez sentiu.
          Assim, não basta ao cangambá possuir uma arma secreta, ele anuncia que a tem e evita usá-la inutilmente. Quanto ao urso, evita confronto com um animal capaz de destruir, mesmo que temporariamente, seu apuradíssimo olfato.
          Assim: Animal de listas brancas = Dado; Animal de listas brancas possui líquido catinguento = informação; Líquido catinguento dura muito e destrói olfato= Conhecimento; Não atacar animal de listas brancas com líquido catinguento= Sabedoria.

CENAS NA BIBLIOTECA

No Centro de Documentação (1)

O Coordenador Geral, historiador famoso e já bastante idoso, chama o contínuo e dá-lhe a seguinte incumbência: “Vá ao Banco X, Banco Y e Banco Z, faça esses pagamentos e retire esses cheques. Volte antes do meio dia, que pretendo viajar. O contínuo responde: “É ruim, hein?”. O historiador, perplexo, pergunta: “Como? ”. O contínuo repete: “É ruim, hein?”, dá de ombros e sai. O historiador chama a bibliotecária: “O que ele quis dizer com “É ruim hein?” A bibliotecária responde: “Bom, eu acho que que ele quis dizer que o senhor lhe deu muitas incumbências diferentes em diferentes bancos, hoje é dia 10, dia de pagamento, as agências estão lotadas e ainda por cima o senhor pediu que ele voltasse antes do meio dia. Ele acha difícil conseguir, mas vai tentar”. O historiador, perplexo, exclama: “E ele disse isso tudo com três palavras e um gesto? É espantoso! ”.

No Centro de Documentação (2)

Pesquisador barbudo, usando macacão colorido, entra no Cedoc e senta-se à mesa ao lado de um casal e uma menina pequena. A garotinha olha para o pesquisador encantada e exclama, bem alto: “Puxa, você parece um espantalho”.
  

Na Discoteca

Usuário pergunta ao bibliotecário se tem gravações de Maria Callas, ele responde que sim e vai mostrar o local. O outro usuário, ao lado, corrige o primeiro: “Não é assim que se pronuncia, é Mariah Carey”.

Na Videoteca (1)

Anos 80, menino de rua, sentado no chão, assiste, muito atento, a uma videogravação. A Coordenadora fica curiosa em saber de que filme se trata, chega, pé ante pé e descobre: uma gravação do Ballet Bolshoi, dançando O Lago dos Cisnes.

Na Videoteca (2)

Copa do Mundo no Brasil. Setor de Audiovisual lotado de argentinos, deitados nas almofadas, vendo filmes e dormindo. Rotina diária, iam ao Restaurante Popular e entravam duas vezes na fila para tomar dois cafés da manhã, almoçavam e depois tiravam uma soneca depois do filme na Biblioteca Pública. Perfeitamente aclimatados.

Na Biblioteca (1)

Biblioteca lotada.
Casal jovem para na entrada e o rapaz decreta: “Nó, a biblio tá bombando”.
No Setor de Referência, um rapaz assustado pergunta ao bibliotecário: “Tem a biologia do Cabral? ”. Este tenta negociar a pergunta enquanto atende dois escolares e se atrapalha, entregando as obras trocadas. Quando se dá conta do erro tenta corrigir e encontra os meninos copiando furiosamente os textos errados.

Na Biblioteca (2)

Biblioteca antiga, prédio muito bonito, com rica arquitetura interior.
Mulher para na porta, ajoelha-se, faz o sinal da cruz e vai embora.

Em Evento

Reunião de Ativistas Feministas, os filhos ficam aos cuidados de arquivista, contadora de histórias. Ela distribui balas e começa a contar uma história famosa, de Niterói, sobre uma menina que foi enterrada pela madrasta e desenterrada pelo pai. As crianças escutam, desconfiadas e uma delas pergunta: “Essa história não é de verdade, não é? A arquivista diz que não é verdade e tenta explicar a diferença entre fantasia e realidade. Mas uma das meninas corta: “Se você está contando mentira eu não quero as suas balas”. E sai da sala.

No Museu

Atividade de educação ambiental com crianças. Uma delas extremamente bagunceira, perturba os trabalhos. O educador aponta para ele e diz: “Vai ser meu ajudante, faça o que eu disser”. O menino se acalma e aguarda ordens. Escuta-se uma vozinha de menina: “Isso não é justo”. O educador baixa os olhos e pergunta à garotinha: “O que não é justo?”. Ela, cruzando os bracinhos e fazendo beicinho: “Nós todos queríamos ser ajudantes do Tio e o Tio escolheu o mais bagunceiro”. O educador olha a menina nos olhos, fica de costas para as outras crianças e pisca, cúmplice para ela: “Ele estava distraindo vocês, precisava ficar ocupado para vocês poderem participar, tudo bem?”. A menina descruza os braços e balança a cabeça para cima e para baixo. E a atividade começa.

No Teatrinho Infantil

Encenação de Aladim e a Lâmpada mágica. Aladim engana o gênio e o prende na garrafa. A criançada protesta, não pode, não pode, mentiu para o gênio. O ator tenta convencer a pirralhada que o gênio era mau, tinha que ser contido, Aladim tinha que se proteger. Não, não, está errado. O elenco confabula e decide mudar o final da peça. Aladim faz o gênio prometer cumprir que nunca mais vai agir errado, ele promete e é libertado. Os erezinhos ficam muito felizes, todos em paz.



sábado, 6 de agosto de 2016

Dica do final de semana - Por Guilma Vidal Viruez

Filmes imperdíveis

Queimada!

Imagem: Cine Players


          Não é fácil de encontrar nos vídeo clubes, mas é tão bom e atual que aconselho uma busca. Trata-se do filme italiano “Queimada” (Burn), de 1969, falado em inglês, aventura histórica de Gillo Pontecorvo, mesmo diretor de “A batalha de Argel”.
          A ação se passa numa ilha fictícia chamada Queimada, nas Caraíbas espanholas ou portuguesas, em história baseada, parcialmente na história do Haiti. Marlon Brando interpreta William Walker, agente inglês enviado para fomentar a independência das colônias, com financiamento da Inglaterra. Ele chega a Queimada, escolhida por ser importante produtora de cana-de-açúcar. Seu objetivo é contatar o líder da rebelião dos escravos e oferecer o apoio inglês. Porém chega tarde e decide fabricar um novo líder. Lembra-se que conheceu, ao chegar, um jovem carregador de malas, chamado José Dolores, que se mostrou educado, mas, ao ser humilhado, deixou entrever um breve lampejo de revolta e fúria. Foi o que bastou para que Walker vislumbrasse nele qualidades potenciais de liderança. Decide então incutir no jovem idéias libertárias e para isso emprega a técnica Socrática Maiêutica, de fazer perguntas e provocar as respostas que deseja. Emprega a mesma técnica com os donos de poder da ilha, para convencê-los a facilitar a libertação dos escravos. É antológica a cena em que pergunta aos nobres: “o que é mais barato, uma esposa ou uma amante?”. Ao ouvir a resposta: “uma esposa, claro”, conduz a conversa demonstrando que uma esposa precisa ser cuidada até o final da vida e uma amante só é cara enquanto é jovem e desejada, que pode ser dispensada, sem qualquer custo e os presentes a ela oferecidos (como joias) podem ser recuperados. Tratava-se de uma analogia entre o escravo e o escravo trabalhador alforriado. Walker é bem sucedido e a grande rebelião, conduzida por ele e por Dolores é vitoriosa. Walker tenta dirigir José Dolores para servir aos seus interesses. Este recusa, mas sua falta de cultura acaba paralisando a máquina administrativa econômica da ilha. Dolores não mais interessa ao imperialismo e as classes dominantes o derrubam, em outra revolução fomentada, na qual José Dolores morre e um novo presidente é providenciado. A Walker restou o sentimento de culpa. Anos depois, retorna a Queimada para depor quem está no poder e substitui-lo por outro, mais útil à Inglaterra. Desembarcando, no porto, pensa ouvir a voz de José Dolores, mas trata-se de um rapaz humilde, com voz parecida, que se oferece para carregar as malas. Ao lembrar-se do passado, Walker se distrai e o carregador de malas o esfaqueia mortalmente, para roubar seus pertences.
          William Walker realmente existiu, foi um soldado americano que chegou a ser presidente da Nicarágua de 1856 a 1857, financiado pelo magnata Cornelius Vanderbilt. O filme demonstra a possibilidade de se produzir lideranças populares e conduzir suas ações - mesmo quando são inicialmente voltadas para o interesse do povo - na direção dos interesses dos poderosos. O roteiro é desenvolvido com perguntas (de Walker) e respostas (de José Dolores), de forma simples e despretensiosa, de forma a provocar no outro reações emocionais que levem a iniciativas revolucionárias. Queimada é um verdadeiro manual, em imagens (desenho), da técnica de doutrinação ideológica, que acaba sendo útil a qualquer governo ou ideologia. Mostra o que acontece quando se conduz as populações miseráveis e incultas para agir em benefício dos interesses estrangeiros. Embora ambientado no século XIX, Queimada se encaixa bem em qualquer outro período histórico, inclusive nos dias de hoje.
          Creiam-me, é uma aula de história.

Ficha técnica:

Direção: Gillo Pontecorvo
Roteiro: Franco Solinas (história / roteiro), Giorgio Arlorio (história / roteiro), Gillo Pontecorvo (história)
Gênero: Drama / Histórico
Origem: França / Itália
Duração: 112 minutos
Tipo: Longa-metragem

quinta-feira, 4 de agosto de 2016

Cheia de Assunto - Por Guilma Vidal Viruez


O Troféu JACA e A Milésima segunda história de Sherazade.
Nosso colega de trabalho podia até ser um pouco chato durante a semana, mas na segunda-feira vinha cheio de histórias interessantes. Um dia chegou contando que no sábado, indo de carona para o sítio de um amigo, passaram perto de uma jaqueira e de repente, pimba, cai uma jaca bem na cabeça do motorista, que desmaiou. Ele, desesperado, tomou a direção e evitou um acidente.
Foi uma gozação só, e ele afirmando: “É verdade, é verdade”. O mais gozador de todos, na mesma hora, resolveu instituiu uma Junta Apuradora de Casos Assombrosos (JACA) e decretou que essa Junta ira premiar a melhor história com o Troféu JACA (uma jaca feita em papel laminado.). O colega da história da jaca, claro, seria hors concours, pelo conjunto da obra.
O segundo ganhador do Troféu JACA fez jus ao prêmio pela seguinte história: estava assistindo o jogo e resolveu cozinhar feijão na panela de pressão. Deixou a panela no fogo e lá pelas tantas, escutou barulho de pancadas na cozinha. Correu para acudir e viu a panela batendo na parede, ricocheteando e batendo na outra parede. Desesperado, sem saber o que fazer, foi para o quarto, buscou o revolver e deu um tiro na panela. Conseguiu derrubá-la e a única vítima foi a cozinha, que ficou com feijão até o teto. Foi aplaudido.
O terceiro troféu deu empate. Duas colegas, com duas histórias incríveis.
A primeira detesta receber papel de propaganda na rua. Vinha apressada, de cabeça baixa e alguém estendeu, à sua frene, a mão com um papel. Sem hesitar, ela capturo-o e rasgou na hora, continuando apressada. Ouviu um grito: “maluca, rasgou meu cheque”. Olhando para trás viu dois homens disparando em sua direção, xingando. Teve que correr muito e se esconder. Chegou assustada. Já a segunda colega contou que antes de chegar em casa passou por uma sapataria e comprou uma sandália rasteira, linda e logo depois foi ao açougue e comprou um quilo de carne. Chegando em casa, guardou os dois pacotes e esqueceu. Alguns dias mais tarde sua empregada a chamou, do quarto: “Dona Fulana, tem um bicho morto na sua sapateira”. Ela olhou, pensativa e concluiu: “Ah, já sei onde coloquei minha sandália nova”.
Eu estava me divertindo muito com esse concurso, até que um dia ganhei, sem merecer, o Troféu JACA. Minha história, do peixe que sobe em árvore, era verídica. Fiquei indignada, não estava certo. Não adiantou eu me comparar a Sherazade, no conto " “A milésima segunda história de Sherazade", de Edgard Allan Poe.
Aconselho vivamente a leitura do mesmo, mas só para terminar meu texto, faço um breve resumo baixo.
Sherazade , a bela filha do vizir, ofereceu-se voluntariamente para casar com o Califa, sabendo que ele estrangulava as mulheres, após a noite de núpcias. A moça desejava acabar com aquele feminicídio e confiava em uma estratégia, a de seduzir o marido com histórias que se prolongavam infinitamente. E assim conseguiu passar mil e uma noites viva somente contando histórias. Na milésima segunda noite o sultão, finalmente, comunicou a Sherazade que confiava nela e ia poupar sua vida, afinal ela só lhe havia contato histórias verdadeiras. Então ela decidiu, nessa noite, contar o restante das aventuras de Sinbad, somente com fatos verídicos, esquecendo as fantasias. E aí narrou uma história que falava da viagem do marujo a uma terra com muitas excentricidades, entre elas:


  1. Um lugar em que, em determinada posição, percebia-se que a terra não era plana e sim redonda, como uma romã (e efetivamente é)
  2. Uma grande ilha no meio do oceano construída por uma colônia de pequenos animais (Corais)
  3. Florestas de pedra, impossíveis de serem cortadas pelo mais afiado machado (Florestas petrificadas do Texas, Rio Pasigno e Chienne river).
  4. Caverna que no interior continha palácios maiores que os de Damasco e Bagdá, repleto de gemas, como diamantes, maiores que um homem, com um rio negro como ébano e peixes sem olhos (As Cavernas Mammoth, no Kentucky.)
  5. Montanha de onde jorravam torrentes de metal derretido, escorrendo por muitas milhas e de cujo topo eram lançadas tantas cinzas que o sol era bloqueado e ficava tudo escuro como meia noite (Islandia, durante a erupção do Hecla, em 1766 e erupção do Vesúvio)
  6. Lago que continham, há mais de cem pés abaixo da superfície, uma floresta inteira, com árvores altas e saudáveis (Em 1790, em Caracas, durante um terremoto, uma porção do solo de granito afundou . Era parte da floresta de Aripao e as árvores permaneceram verdes por vários meses).
  7. Clima onde a atmosfera era tão densa que sustentava no ar ferro como se fosse pluma (experimento científico).
  8. Rio longo e profundo, águas transparente como âmbar, com margens sempre floridas e jardim perpétuo, perfumado, conhecido como Reino do Horror, entrar nele representava morte inevitável (Região da Nigéria).
  9. Miríades de animais monstruosos, com chifres nos ombros, que cavavam cavernas no solo, tapando-as com grandes rochas. Seus inimigos escorregavam nas pedras e eram sugados para a caverna, sendo suas carcaças arremessadas a uma imensa distancia (as formigas Mirmilon).
  10. Vegetais e plantas que nasciam no ar, em outros vegetais, em animais, que brotavam do fogo, que moviam-se de uma lado para outro, flores que escravizavam outras criaturas e as confinavam em prisões solitárias (A Epidendron, Flos Aeris, da família das Orquídeas, parasitas, como a Rafflesia Arnaldii; A planta Epizoae, que cresce em animais vivos; espécie de fungo que cresce em minas e cavernas e emite uma intensa fosforescência;
  11. Reino no qual abelhas e pássaros dão aulas de Matemática e Geometria aos mais sábios do império, resolvendo problemas dificílimos (Observação do mundo dos insetos e sua relação com a Ciência).
  12. Revoada de pássaros tão larga e comprida que levava quatro horas para passar (Pombos, passando do Canadá para os Estados Unidos).
  13. Ave maior que a maior das cúpulas do palácio, não tinha cabeça visível, parecia formado inteiramente por um ventre de prodigiosa grossura e redondez, constituído por uma substância muito suave, lisa, brilhante, de franjas coloridas. O monstro levava em suas garras uma casa cujo teto tinha sido arrancado e em cujo interior eram vistos vários seres humanos que pareciam apavorados (Montanha russa?)
  14. Um continente imenso, extenso e sólido, suportado inteiramente no dorso de uma vaca da cor azul céu, com 400 chifres (nessa o Califa acreditou, tinha lido em um livro, ninguém me disse o que era)
  15. Mágicos que vivem com vermes no cérebro (O Entozoa, ou verme intestinal, observado nos músculos e cérebros do homem)
  16. Cavalo gigantesco cujos ossos são de ferro e cujo sangue era de água fervente. No lugar de chifres, tinha pedras negras para seu alimento habitual, e apesar dessa dieta pesada, era tão forte que arrastava coisas mais pesadas que os maiores templos da cidade, em velocidade maior que o voo de muitas aves (Trem movido a cavalo vapor).
  17. Uma galinha sem penas, maior que um camelo, em vez de carne e ossos era de ferro e ladrilhos, seu sangue era de água fervendo, só comia madeira e pedras negras. Produzia uma centenas de frangos em um só dia, depois de nascidos se instalavam durante várias semanas no seu estômago. (Segundo informações seria o Eccalobeion, não sei o que é).
  18. Sábios que construíram: homem de bronze, madeira e couro, com tanta inteligência que venceria em xadrez toda a humanidade, com exceção do califa Harum Al Raschid. Outra criatura foi construída com materiais parecidos e com poderes de raciocínio tão grande, que em segundos efetuava cálculos que teriam requerido o trabalho de cinquenta mil homens durante um ano. E um terceiro construído era uma criatura muito forte, nem homem nem animal, mas que tinha cérebro de chumbo misturado com uma substância negra e dedos que atuavam com tanta velocidade e destreza que fora capaz de escrever 20.000 cópias do Alcorão em uma hora, com tal precisão que nenhum erro fora encontrado em sequer um exemplar e todos eram perfeitamente iguais. Esta criatura tinha uma força prodigiosa, a tal ponto que criava e destruía de um sopro os impérios mais poderosos, mas suas habilidades se aplicavam tanto ao bem quanto ao mal. (A automação de Maelzel, Jogo de xadrez, Máquina de calcular de Babbage).
  19. Sábio em cujas veias corria o sangue da salamandra, fumava em forno ardente, enquanto sua comida se cozinhava no solo. Outro convertia metais comuns em ouro. Outro percebia as coisas com tanta rapidez de contava os movimentos de um corpo elásticos enquanto este se movia para frente e para traz na velocidade de novecentas milhões de vezes por segundo (Chabert; O Electrotipo Wollaston feito de platina, pode ser visto somente com o uso de microscópio. Newton demonstrou que a retina, sob a influência dos raios violeta do espectro, vibram 900 milhões de vezes por segundo)
  20. Sábio que, ajudado por um fluido invisível, podia fazer com que os cadáveres movimentassem os braços e se movimentassem. Outro cultivou a tal ponto sua voz que podia ser ouvido de um extremo a outro do mundo. Outro tinha um braço tão grande que podia estar sentado em Damasco e escrever uma carta em Bagdá. Outro tinha tal domínio sobre o relâmpado que o fazia descer e brincar com ele. Outro pegou dois sons muito fortes e os transformou em silêncio. Outro criou uma escuridão profunda com duas luzes brilhantes (Pilha Voltaica; O aparelho de impressão telegráfico elétrico; Experiências em Filosofia Natural; Experiências com metais; O daguerreótipo).
  21. Outro sábio fabricou ferro em um forno ardente. Outro fez o sol pintar seu retrato. Outro pegou o sol, junto com a lua e os planetas, pesou-os, examinou sua profundidade e descobriu a substância de que são compostos. Nessa ação todos, inclusive crianças e gatos têm capacidades nigromantes e podem ver facilmente objetos que não existem ou que deixaram de existir há 20 milhões de anos (Siderurgia; Fotografia sem lentes; Arqueologia).
  22. As mulheres dos magos, embora refinadas e perfeitas, acreditavam serem imperfeitas e que precisam ter protuberâncias nos ombros e usam almofadas para aumentar essas partes do corpo, de modo que não se distinguiam as mulheres dos dromedários. (Modismo, Moda)
Nesse momento o Califa, que não parara de resmungar durante todo o relato, perdeu a paciência e ordenou a Sherazade que se calasse. Ela não havia dito senão mentiras. E mandou que a estrangulassem.

terça-feira, 2 de agosto de 2016

Marketing Digital para Bibliotecas - O que é conteúdo? (Por Flavia Rebello)


Olá,

Eu sou a Flavia Rebello, criativa na Biblio Ideias, e hoje é a minha vez de falar sobre Marketing Digital para Bibliotecas.
Além de trabalhar diretamente com o tal marketing digital, venho atuando no último ano como instrutora em diversos workshops sobre o assunto, mais especificamente focando em produção de conteúdo, e uma das coisas que mais me chama a atenção é que a maioria das pessoas sabe ao menos o que é conteúdo.
As respostas que ouço quando pergunto as pessoas sobre o que elas imaginam que seja conteúdo é sempre enorme e complexa, pois acreditam que só é conteúdo aquilo que é super elaborado, com detalhes minuciosos e explicações técnicas, quando na verdade, a resposta é muito simples.
Mas afinal, o que é conteúdo?
Conteúdo, segundo a definição dos dicionários é o que está contido em algo, que ocupa algum espaço, portanto, tudo aquilo que geramos em algum lugar é conteúdo. Seja um simples bom dia em uma página ou perfil pessoal em uma rede social, uma foto que tiramos, podendo ser postada ou não, um texto, um vídeo, um desenho.
Tudo é conteúdo!!!
É claro que existem conteúdos mais elaborados, mais complexos, mais ricos, mas isso não desqualifica nenhum outro tipo de conteúdo. O que vai diferir os conteúdos, que observamos por aí é a relevância do conteúdo produzido, e é exatamente isso que vai te diferenciar daqueles que fazem a mesma coisa que você. Por isso, se o seu objetivo é se comunicar, de forma que isso gere engajamento e que agregue algo aos que te procuram, seja relevante.

Bem, essa foi a nossa primeira dica, e você aprendeu que o conteúdo em si não tem nada de complexo, e que é a qualidade dele que vai diferenciar os inúmeros de produtores de conteúdo que existem por aí. Nos vemos em breve, com mais dicas de MKT Digital. Tchau!

segunda-feira, 1 de agosto de 2016

ARGONAUTA: O Começo de tudo! Por Guilma Vidal Viruez



          A Data Coop completa, em 25 de setembro, vinte anos de atividade, feito memorável em um país onde a mortalidade das empresas é de dois anos.
       O software Biblioteca Argonauta®, família de softwares da Cooperativa, está perto de atingir o mesmo marco. Ótima ocasião para lembrar o histórico do Argonauta e principais funcionalidades do mesmo.
          Para começar, nada melhor do que o começo. O Argonauta nasceu do meu sonho, como bibliotecária, de ter um software que atendesse às necessidades da Biblioteconomia e Documentação, portanto, a história do Argo (como eu o chamo na intimidade), se confunde com a minha própria história profissional.
        Tornei-me bibliotecária por vocação, observando o trabalho de minha mãe, como um verdadeiro camundonguinho de biblioteca. Mas também escolhi racionalmente. Observava profissionais atuando e me imaginava no lugar deles. A independência dos bibliotecários me fascinava. Não via ninguém mandando neles, só pedindo. E os bibliotecários, embora atenciosos, impunham sempre seu ritmo de trabalho e negociavam a entrega. E quando entregavam o produto, sempre o cliente ficava com jeito de grato. O trabalho das equipes da biblioteca também me parecia muito colaborativo.
          Decidi logo fazer Biblioteconomia e Documentação e desde cedo meus interesses foram voltados para melhoria nos serviços, otimização de tempo, formas de acesso ao acervo, cuidados na preservação e principalmente com a informatização dos processos na Biblioteconomia.
      Passei a ser funcionária da Fundação Nacional de Arte na primeira década de sua fundação, período de distensão política, início do final da Ditadura. A Funarte congregava uma equipe fantástica de pensadores e pesquisadores, sob uma inteligente administração cultural, que lhes oferecia total liberdade de criação e experimentação. A Fundação era o Ministério da Cultura, dentro do MEC. Eu passei a coordenar o Cedoc, que reunia documentação especial, como figurinos, cenários, maquetes, selos, fotolitos, cartazes, programas de peças, textos de peças teatrais, partituras manuscritas e impressas, negativos de vidro, fitas rolo, além dos usuais livros, periódicos e artigos e recortes.
      A Funarte tinha como característica o trabalho integrado de todos os setores e a preocupação com a preservação da memória institucional. Assim, todos os projetos, pesquisas, estudos, passavam, em diversas etapas, pelo Cedoc, que era destinatário da documentação final, como fotos, filmes, vídeo gravações, registros sonoros, textos, monografias, edições. Significava que a catalogação de cada peça levava à pesquisa de seu histórico e fazia referência cruzada a todos os documentos relacionados. Maior integração, impossível.
            Na época era usual as instituições começaram a informatizar a Área Meio, uma vez que seus dados eram comportados. A Funarte já tinha informatizado o RH, Patrimônio, Financeiro, quando voltou os olhos para a Área Fim. Foi quando fui convidada a integrar a equipe do Setor de Informática, composta pelo analista de sistemas Francisco Wilson Ribeiro Peres e pelo programador Gian. Juntos, analisamos as necessidades de informação das Áreas Fim da Funarte. O trabalho rendeu muitos frutos, como diversos inventários e cadastros de manifestações culturais, espaços culturais, profissionais ligados à Arte e Cultura, nas Áreas de Música, Artes Plásticas, Dança, Folclore. No plano pessoal, familiarizou-me com os processos de modelagem de dados.
        No que se referia ao Cedoc, entretanto, logo constatou-se que seria o sistema mais complexo a ser desenvolvido. A opção foi pesquisar softwares comerciais existentes no mercado. Testamos vários, sem que nenhum satisfizesse nossas necessidades. Eram em sua maioria estrangeiros, caros, pouco flexíveis, obrigavam o usuário a fazer planilhas, a conhecer o padrão Marc 21, não possuíam campos variáveis, não permitiam criação de nenhum campo, não faziam integração de bases de dados, exigiam a compra ou desenvolvimento de vários Módulos para dar conta do acervo da Funarte e ainda assim não atendiam a nossas necessidades. Apenas um me agradou, o Micro Isis, por sua capacidade de permitir ao usuário construir suas próprias bases de dados. Logo fiz o curso e passe a usar a ferramenta como teste para os softwares que queria que meus colegas desenvolvessem. Mas ainda assim não nos atendia, uma vez que era portado para microcomputadores, que na época não comportavam grande volume de dados.
       Era época do grande e médio portes, anteriores à explosão da microinformática. A Funarte utilizava uma linguagem de programação largamente empregada na Área da Saúde, o MUMPS (Massachusetts General Hospital Utility Multi-Programming System). A mesma fora projetada para construir aplicações de Banco de dados, a baixo custo. Era extremamente flexível na construção de sistemas de informação, utilizando recursos de computação mínimos e permitindo multiprocessamento (não havia, à época, a possibilidade de uma única estação de trabalho suportar múltiplos usuários). Era também época de reserva de mercado de Informática, o que deu oportunidade às empresas brasileiras, como a Cobra, de efetuar implementações na linguagem MUMPS no Brasil.
            Durante o desenvolvimento dos sistemas das Áreas Fim, detectamos a possibilidade de criar, em MUMPS, programas que criassem programas, em especial para tarefas repetitivas, como formação de cadastros e tabelas. Foi quando Francisco e Gian criaram o gerenciador de banco de dados Zen, que passou a ser adotado em todos os desenvolvimentos. Foi quando deixei de fazer protótipos com o Micro Isis e passei a utilizar o Zen.
       Foi quando surgiu o Sistema Zen - Sisdoc para Gerenciar o Acervo do Centro de Documentação, e logo depois o Sismu, para o acervo do Museu. Todos os sistemas desenvolvidos no Zen foram analisados pelo analista Francisco Wilson Ribeiro Peres e programado pelo programador Gian..
       Francisco merece um capítulo à parte. Destacava-se dos demais analistas da época, verdadeiros geninhos do zero e um, formados na escola dos Anos Sessenta, Setenta. Ele tinha outro perfil. Viera de baixo, subiu na vida no Rio de Janeiro, vindo de Ipu por seus próprios méritos e garra. Aprendeu a programar com o melhor analista do IBGE, a partir de uma aposta, se era capaz de fazer sozinho um programa, que vencera. Inteligente, curioso e trabalhólatra, sempre foi a alma do Argonauta, a quem se referia como um filho. Formou-se em Estatística e fez vários cursos de Informática, sendo depois transferido para a Funarte.
         Formávamos um time e tanto. Muita briga, é verdade. “Você é arrogante”, “Você é chata”, era o que mais se ouvia. Mas sempre chegávamos a um denominador comum. Não havia dificuldade que eu colocasse que ele não se sentisse desafiado a contornar.
      E o Zen funcionou na Funarte, sempre recebendo implementações, a partir das necessidades dos usuários dos diversos setores.
         Até que chegou a tragédia Collor. Fui colocada em disponibilidade e, para encurtar conversa, passei a ser consultora em Biblioteconomia. Foi quando surgiu a outra personagem na história do Argonauta, a bibliotecária Iracema Rodrigues de Moraes.
           Nós militávamos no Sindicato dos Bibliotecários, ela era Vice-Presidente da gestão Ivana Mendes Campos. Mesmo tendo imunidade, foi demitida do emprego num setor público. Passou a prestar serviços por intermédio de uma Cooperativa que chamávamos de eteceteras (diversas profissões). Teve então a ideia de fundar uma cooperativa de bibliotecários, que veio a ser Data Coop, primeira cooperativa de profissionais da informação. Começamos nas dependências do Sindicato, passamos para um escritório virtual, até que sentimos a necessidade de ter um espaço nosso, que é o que ocupamos até hoje.
          Nessa época eu trouxe para Iracema a proposta de desenvolver um software bibliográfico comercial, a partir da minha experiência e do Chico no desenvolvimento do Zen, da Funarte. Ela, sempre ousada, topou na hora. Coincidiu que o Ministério Público nos contratou para organizar a Biblioteca e se interessou pelo nosso software, optando, porém, por desenvolver em Power Builder, a partir da inteligência que passássemos. Foi um excelente teste. Daí foi só partir para desenvolver a versão comercial diretamente, utilizando Delphi 3.
          Nosso protótipo já tinha nome: Argonauta. Sugestão de minha amiga de infância, Angela Seixas. Éramos, as duas fissuradas em Mitologia Grega e o nome surgiu naturalmente. Argonautas eram os 50 heróis tripulantes da nau Argo, feita com a ajuda da deusa da sabedoria, Atena que os conduzia a inúmeras expedições, batalhas e descobertas de mares e continentes distantes. Corajosos e intrépidos, os Argonautas arriscavam-se para conquistar o “tosão de ouro”, que simbolizava a sabedoria e traria a prosperidade para o povo que o possuísse e deve-se a um deles, Tífis, a audácia do desdobramento das primeiras velas sobre a imensidão dos mares, ditando novas leis aos ventos. Entre os Argonautas famosos encontram-se Hércules, Ulisses, Teseu, Castor, Pólux, Orfeu. Eu queria homenagear os bibliotecários, nós éramos o Google da época e sempre fôramos os pioneiros na navegação na infovia.
          As duas logomarcas foram idealizadas pela designer Fernanda Lemos. A da Data Coop representa a integração dos diferentes suportes, a variedade de dados, contidos nos quadrados e letras que simbolizam dados, documentos, antenas (a ponta do d), claquetes (a perna do p). A cor escolhida foi o azul, representando tanto a cor do oceano profundo quando o céu sem estrelas. A logo do Argonauta representa a nau Argo, a cor é verde Light, é composta das letras B e A estilizadas em forma de vela. O primeiro ícone do software, na versão cliente/servidor, reproduzia, de maneira estilizada, o cefalópode Argonauta (Argonauta Argo), assim denominado por alusão aos Argonautas. O molusco, em época de calmaria, navega na superfície do mar utilizando-se dos tentáculos como remos e vela. Em caso de perigo, recolhe-os e mergulha.
       No momento que apresentávamos o Argonauta, a situação da informática mudara completamente. A microinformática chegou de supetão, subvertendo tudo. Já havia capacidade para processar grandes dados, o multiprocessamento era absolutamente viável. E principalmente, aquele hardware era o que a Informática necessitava para transformar em realidade os grandes estudos dos Anos Sessenta (robótica, tratamento de som e imagem). Possibilitaram, portanto, a criação das bibliotecas digitais com as quais eu tanto sonhava e só pareciam possíveis nos documentos que buscávamos nos países da cortina de ferro e mandávamos traduzir. Beleza.
         Assim, em 1998 o Argonauta, incorporando todas as novidades possíveis, era implantado em seu primeiro cliente, a Fundação Educacional Souza Marques, em versão cliente/servidor, desenvolvido em Delphi 3.
Começamos a exibir o sistema em Congressos e atraímos a atenção dos profissionais e pelo mundo Acadêmico.
          No ano 2000 realizamos a primeira venda para o exterior, para o Ministério do Plano, de Luanda, Angola.
Em pouco tempo o Argonauta possuía tantos clientes quanto a sua concorrência, no mercado há muito mais tempo. E o motivo foi que apresentamos muitas novidades, à época. Com o tempo toda a concorrência passou a também incorporar as mesmas funcionalidades, o que foi muito bom para a área de Documentação. Nossa estratégia de venda, não cobrando por biblioteca e sim por licença, barateou o produto para os clientes, e foi rapidamente absorvida pelos demais fornecedores de software.
Dentre os problemas que eram encontrados e que foram solucionados com o desenvolvimento do Biblioteca Argonauta®, elencamos:

  • integração das bases de dados bibliográficas, documentais, audiovisuais, hemerotecas e bases de informações em um único software, desobrigando os usuários de adquirir diversos softwares para gerenciar seus acervos;
  • entrada de dados, que antes obrigava os usuários a terem conhecimentos dos parágrafos Marc21, passou a ser realizada interativa e amigável, tornando possível a catalogação on line, sem necessidade de planilha, o Argonauta se encarregava de transformar a entrada de dados nos parágrafos Marc21, no que chamamos de Marc 21 sem dor;
  • a catalogação passou a ser mais flexível, o usuário podia optar por entrar dados em qualquer nível do AACR2 ou utilizar seus próprios padrões;
  • os relatórios passaram a seguir as normas ABNT para Documentação;
  • os controles da linguagem documentária, como o Controle de Autoridades, o Controle Vocabular e o Tesauro, passaram a ser integrados ao software de Gestão da Documentação, possibilitando a alteração em cascata de todos os dados, a partir de uma única alteração na tabela;
  • os campos passaram a ser tabelados, reduzindo a incidência de erro na entrada de dados;
  • as customizações, desde que atendessem a todos os clientes, passaram a ser realizadas sem tanta burocracia e passaram a ser incorporadas à manutenção do software;
  • os licenciamentos passaram a ser realizadas por instituição e não mais por biblioteca atendida;
  • o Argonauta possibilitou a integração dos sistemas bibliográficos, arquivísticos e museográficos, com exportação no padrão Marc21.
          Esse foi o começo. Nas próximas postagens, vou falar um pouco mais de cada funcionalidade.