Eu trabalhava numa empresa multinacional, como
bibliotecária, e tinha uma colega, muito interessantes que às vezes almoçava
comigo e costumava ter tiradas inusitadas. Uma vez olhou as pessoas na rua e
exclamou, bem contente: “Nossa, quanta gente bonita”. Eu olhei em volta,
buscando a beleza estonteante e vi somente pessoas bontinhas, misturadinhas,
bacanas, mas sem nenhum diferencial que justificasse aquele expressão. Fiquei
pensando que gostaria de olhar um pouco o mundo com os olhos dela. Isso, até
que um dia, ao chegarmos à rua ela franziu a testa e decretou: “O povo da rua
está muito inquieto”. Gelei. “Que povo? Os aldeões? Inquietos porque?”. Ela deu
um gargalhada. “Que aldeões, Guilma, estamos na cidade”. Daí eu pedi: “Se
souber de alguma coisa me avise, preciso correr para debaixo do caldeirão”.
Nunca mais a vi, mas fico pensando como ela estaria vendo o povo da rua nesses
dias tão conturbados. Estarão belos ou inquietos?
No Tribunal de Justiça
Advogado chega apressado e aponta para uma
mesa vazia: “Cadê o escrevente dessa mesa?”. A colega, consternada, responde:
“Pois é Doutor, infelizmente o colega morreu ontem, foi ines...”. O advogado,
de bate pronto: “Quem está no lugar dele?”
Boca de urna
Pois é, a Data Coop não pode ser politizada, é
formada de pessoas de diversas orientações ideológicas, religiosas, cada um tem
uma forma diferente de ver o mundo. Mas bolas, todo o mundo sabe que sou
Petista e estou assinando a coluna, portanto aqui vão as minhas estórias de
Boca de Urna do PT:
a) Campanha de Benedita Silva a governadora.
Eu e minha colega bibliotecária panfletando no Largo do Machado, eu pelo PT,
ela pelo PDT. Cansadas, sentamos no chafariz para descansar. Passa um morador
de rua, aponta para nós e diz: “Vocês pensam que nós, moradores de rua, não
somos cidadãos?” E exibe um título novinho em folha. “Pois eu sou e estou indo
votar contra a macaca”. Minha colega não se aguenta e chama: “Venha cá moço”.
Ele obedece. Ela: “O senhor, morador de rua, tão cheio de preconceito”. Ele
começa a falar sem parar, despejando tudo o que ouve nas ruas, mostra-se ao
mesmo tempo bem e mal informado. Capitulamos: “Está bem, não quer votar na Bené
nem no PT, não vote, mas quem são os seus candidatos?”. Ela apresenta uma lista
horrível de nomes da pior categoria. Negociamos: “Todos os partidos têm gente
boa, em que você acredita?”. Ele se ajoelha e conversamos os três. Depois de
uns quinze minutos começamos a discutir nomes e no final formamos uma chapa bem
bacana. Ele levanta feliz e diz que não dá tempo de mudar a cabeça dos outros,
mas que ele ia votar naqueles nomes. E vai embora, contente. Nós continuamos,
um pouco menos cansadas.
b) Saimos da boca de urna do Largo do Machado
e fomos para Copacabana porque correu a notícia que estava sem ninguém
trabalhando. Chegando lá nos espalhamos. Vi uma rua vazia e corri para lá.
Distribui santinhos, conversei. Estava embaixo de uma escadaria e era só pegar
o povo, que era bem receptivo. De repente um PM se encaminha na minha direção,
olhando para cima e assobiando. Ao passar por mim, para e diz: “Oh companheira,
se você não sair daqui agora, vou ser obrigado a lhe prender, você está na
porta do quartel”. Levei um susto, agradeci muito e sai ventada. Essa foi por
pouco.
c) Boca de urna no Largo do Machado. Vejo dois
companheiros sendo abordados por um homem de terno, que sequestra seus os
panfletos. Chego perto e pergunto o que houve. O homem se volta logo para mim:
“Ministério Público, o que você tem dentro da bolsa?”. E já vai metendo a mão
na minha sacola. Respondo rápido: “Cola para a minha família”. Ele retira a
mão, cheia de folhetos e diz: “Família grande, heim”. E manda que circulemos.
Essa também foi por pouco.
d) No final da boca de urna nos reuniamos no
Amarelinho para comemorar. Volto pela rua do Catete sozinha, carregando um
bandeirão do meu tamanho. Encontro um mendigo que levanta do chão e agarra
minha bandeira. Puxo, ele puxa. Ficamos na maior luta de classes. Digo: “Solta
a minha bandeira”. Ele responde: “Não é bandeira, é cobertor, estou com frio”.
Me quebrou. Soltei e disse: “Está bem, fique com ela”. Perdi minha melhor
bandeira.
e) Campanha de Lula para presidente. Eu
colecionava peças diferentes que ia comprando em todos os eventos do PT e que
tenho até hoje, como camisinhas escritas “Sem medo de ser feliz”, chapinha de
Coca Cola com PT pintado, broches e pins. Alguém fez a figura do Lula, com
faixa presidencial, em gesso, em formato de broche. Era o início do Lulinha Paz
e Amor. Comprei um e usava em todos os comícios. Todo o mundo me dizia que eu
ia perder o Lulinha. Um dia, estou na Cinelandia, sinto um esbarrão, quando
olho, estou sem o broche. Graduada em Controle Mental, decido seguir as
técnicas do curso para achar o brochinho e a intuição me mandar ir para as
escadarias da Biblioteca Nacional. Vou e lá encontro o Lulinha no chão. Apanho
e escondo rapidamente na bolsa. Encontro meus amigos da Funarte e, feliz, conto
a história. Eles me olham céticos, abro a bolsa, apanho o broche e exibo. Mas
eis que percebo que aquele não era o meu broche e sim outro bem parecido. Um
dos amigos balança a cabeça e decreta: “É o que dá esquerdista ser metido a
esotérico, dá tudo trocado”.
f) Campanha de Lula para presidente. Um bando
de militantes, de camisa vermelha, dentro do vagão do Metro. De repente o alto
falante anuncia: “Próxima estação, estação Lula Lá, a saída é pela esquerda”.
Gritamos: “É sim” e saímos. Na estação Presidente Vargas cobrimos o nome Vargas
e colamos o de Lula. Ficou Estação Presidente Lula.
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